Projectos

Notícias e Eventos

NOVA GIPS: Prescrição Social na resposta aos desafios da pandemia

Publicado a 18/03/2021

A ENSP-NOVA, em parceira com o ACES Lisboa Central – USF da Baixa e USF Almirante – lançam o NOVA Grupo de Investigação em Prescrição Social (NOVA GIPS), que tem como missão fortalecer a investigação, implementação, avaliação e disseminação da Prescrição Social em Portugal.

A Prescrição Social é uma intervenção que permite ligar utentes dos cuidados de saúde primários com os recursos de apoio existentes na comunidade. Procura maximizar as respostas às necessidades sociais, emocionais e práticas dos utentes, ajudando-o a encontrar soluções que contribuam para melhorar a sua saúde e bem-estar, mas também otimizar a utilização dos serviços do Serviço Nacional de Saúde.

Co-coordenado pela Prof.ª Sónia Dias, Professora da ENSP-NOVA e pelo Dr. Cristiano Figueiredo, médico de família e coordenador do Projeto de Prescrição Social da USF Baixa, o NOVA GIPS pretende promover e apoiar as atividades relacionadas com a Prescrição Social em Portugal, tendo como base um trabalho interdisciplinar que reforça e estabelece novas pontes entre a academia, o setor da saúde e o setor social.

Qual é o impacto da prescrição social na saúde dos utentes, na utilização e prestação de cuidados e qual o seu custo-benefício? Como se desenvolve o processo da sua implementação, quais as barreiras e fatores de sucesso, na perspetiva de profissionais e gestores de saúde, bem como parceiros sociais e utentes? Estas são algumas das perguntas que interessam ao grupo de investigação.

Sónia Dias refere que “Associado ao enorme entusiasmo na iniciativa da prescrição social e no seu potencial para beneficiar a saúde e o bem-estar dos cidadãos, mas também o Serviço Nacional de Saúde, num momento de crescente complexidade das necessidades em saúde e sociais, é essencial apoiar investigação e avaliação de grande qualidade, que nos permita conhecer o que está a funcionar bem na prescrição social, como poderá crescer, o que pode melhorar e qual o seu real impacto”. Cristiano Figueiredo salienta ainda que “apesar da prescrição social ser uma ideia simples, no seu conjunto resulta numa intervenção em saúde extremamente complexa, porque mobiliza uma grande variedade de respostas do terceiro setor, institutos públicos e autarquias, com especificidades locais e variações temporais, que tornam o planeamento e a avaliação da prescrição social muito desafiantes”.

A pandemia do Covid-19 está a agravar desigualdades sociais com enorme impacto na saúde das populações e reforçando, sem precedentes, o rasto de isolamento social, doença mental, sedentarismo, desemprego e pobreza. Os desafios já existentes e agora acentuados indicam que mais do que nunca, é necessária uma atuação intersetorial, de colaborar com todas as pessoas e organizações que promovem a saúde e o bem-estar físico, mental e social da comunidade. A Prescrição Social poderá aqui assumir-se como uma solução inovadora, relevante e prática neste contexto.

O grupo de investigação pretende promover e apoiar as atividades relacionadas à Prescrição Social em Portugal, tendo como base um trabalho interdisciplinar, com o objetivo de organizar uma rede nacional de parceiros, composta por profissionais de saúde, assistentes sociais, representantes do poder local e do setor social, solidário e voluntário, representantes da comunidade, académicos, financiadores, pacientes e cidadãos, para juntos compartilhar conhecimento e melhores práticas, para apoiar a prescrição social em nível local e nacional e para informar investigações e avaliações de excelência.

São vários os estudos que já se encontram a decorrer, contando com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, que desde o primeiro momento apoiou esta iniciativa. Louíse Hoffmeister desenvolve a sua tese de Doutoramento nesta área, referindo que “o estudo de avaliação do impacto da Prescrição Social para os utentes poderá trazer informações sobre o quão benéfica pode ser esta intervenção para a qualidade de vida, bem-estar e saúde dos indivíduos”.

 

Prescrição Social em Portugal

Com origem no Reino Unido por volta dos anos 2000, esta intervenção encontra-se hoje amplamente disseminada nos Centros de Saúde, um crescimento apoiado pelo governo inglês desde 2019. Apesar da sua recente implementação, a Prescrição Social é uma intervenção já implementada noutros países, como a Austrália e o Canadá.

Em Portugal, a Prescrição Social em teve início em 2018, em Lisboa, com a implementação de um projeto piloto na USF da Baixa e, em maio de 2019, na USF Almirante (freguesias de Arroios e Penha de França). Nos primeiros 15 meses de implementação, 147 utentes tiveram consulta de Prescrição Social, após terem sido referenciados por profissionais de saúde destas unidades de saúde. Os utentes, de todas as faixas etárias, são mais de metade do sexo feminino (62%) e 42% são migrantes, de mais de 17 nacionalidades. Os principais motivos de referenciação são o isolamento social, acesso a benefícios sociais, sedentarismo, integração social de migrantes, saúde mental e dependência funcional. A Dra. Andreia Coelho, assistente social do projeto Prescrição Social da USF Baixa, explica “que conhecendo bem a comunidade envolvente, a prescrição social permite uma maior proximidade entre os parceiros e uma melhor articulação no âmbito do serviço social”.

As respostas às necessidades dos utentes foram promovidas através de 24 parceiros sociais – Associações, Instituições Particulares de Solidariedade Social e Juntas de Freguesia – e traduziram-se, por exemplo, em aulas na Universidade Sénior, cursos de português para migrantes, apoio na procura de emprego e formação, integração em centros de dia.

Os coordenadores acreditam que “o NOVA GIPS pode ajudar a apoiar o planeamento e avaliação de projetos de Prescrição Social em Portugal, para que este movimento social beneficie mais cidadãos e abranja mais unidades de saúde”. Esperamos que o fortalecimento desta intervenção em Portugal possa promover cuidados mais equitativos e centrados nas necessidades dos utentes e suas famílias, construir comunidades mais solidárias e resilientes, e colaborar para a criação de soluções que apoiem a sustentabilidade do SNS”.