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Diretora da ENSP-NOVA na reunião do Infarmed: “A mesma pandemia, vivências e impactos diferentes”

Publicado a 11/11/2022

São sobretudo os impactos negativos da pandemia Covid-19 na sua vida que as pessoas destacam no Barómetro Covid-19: Opinião Social, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP-NOVA) que foi hoje apresentado na reunião “Covid-19: Situação Epidemiológica em Portugal”, no Infarmed, pela Diretora da ENSP-NOVA, a Professora Sónia Dias.

Mantendo o compromisso de monitorizar as perceções da população ao longo dos quase três anos da pandemia de Covid-19, a ENSP-NOVA atualizou a recolha de dados, junto de mais de três mil participantes, para compreender como se posiciona a população na fase atual de evolução da pandemia.

 

Perspetivas sobre impactos da pandemia: uma pandemia, vivências diferentes

Os resultados mostram que a maioria (83%) dos portugueses inquiridos destaca apenas impactos negativos da pandemia nas suas vidas e das suas famílias, embora 1 em cada 10 participantes reporte experiências positivas.

A recuperação dos efeitos negativos nas relações com familiares e amigos, que se traduziram num maior isolamento e redução dos contactos, estão no centro das preocupações da maioria (66%) dos inquiridos. De destacar ainda que 33% dos inquiridos reportou um agravamento da saúde mental (33%), incluindo sofrimento psicológico (ansiedade e depressão), embora uma pequena minoria tenha relatado uma maior sensação de bem-estar e qualidade de vida. De facto, o que é apontado como um contexto de adversidade pela maioria, parece ter-se traduzido numa oportunidade para alguns: a obrigatoriedade de teletrabalho e os períodos de confinamento, que representaram para a maioria uma elevada sobrecarga, cansaço e fator de stress, para outros permitiram estreitar laços familiares e passar mais tempo de qualidade com a família, potenciando o bem-estar e a saúde.

Quando se analisam os impactos negativos, também se verificam diferenças na forma como diversos grupos populacionais reportam os efeitos da pandemia. De forma global, são as mulheres quem mais refere que as relações interpessoais pioraram durante a pandemia (67% mulheres comparativamente a 51% homens), bem como a saúde mental (33% mulheres comparativamente a 26% homens).

“Estamos perante uma pandemia de Covid-19, mas claramente diferentes vivências. Por exemplo, os mais jovens reportaram mais impactos negativos na saúde mental, educação e situação económica; os mais de 65 anos mais impactos nas relações com familiares e amigos e a população ativa fundamentalmente consequências adversas na sua situação profissional” – salienta Sónia Dias, coordenadora do estudo e Diretora da ENSP-NOVA. Adicionalmente, são os participantes com menores rendimentos quem mais reporta um impacto negativo na sua saúde física, situação económica e profissional. “Estes dados confirmam os impactos desiguais da pandemia de acordo com as circunstâncias de vida das pessoas, apontando um agravamento de situações de vulnerabilidade socioeconómica.” – acrescenta.

 

Perspetivas sobre a fase atual da pandemia: da preocupação às medidas de proteção

Perceção de risco de infeção por Covid-19

No momento atual, 65% dos participantes considera ter risco moderado pu elevado de ficar infetado com Covid-19. Uma em cada três pessoas perceciona risco baixo ou nulo, sobretudo homens, grupos etários mais jovens e pessoas com mais de 65 anos.

Apesar da perceção de risco reportada, mais de metade dos inquiridos (69%) refere estar pouco ou nada preocupado com a Covid-19, quando questionados sobre o que os preocupa na área da saúde. “Estes dados sugerem alguma normalização da Covid-19 e relativização do risco face a outras áreas da saúde e da vida da população, coerente com a fase atual da pandemia, com a experiência acumulada ao longo dos últimos anos e com o contexto socioeconómico atual.“-refere Sónia Dias.

 

Preocupações com a saúde

Quando questionados sobre diferentes áreas da saúde, os participantes mostram-se mais preocupados com a saúde mental (55%), com o acesso a cuidados de saúde de rotina (50,9%) e de urgência (60%), do que com aspetos como a Covid-19 ou outras doenças respiratórias.
“Os dados mostram que há uma consciência dos desafios e da pressão que os serviços de saúde estão a enfrentar, e que se poderão agudizar com a resposta às doenças comuns do inverno, e isso justifica o grau de preocupação reportado. No entanto, a maioria das pessoas reporta estar confiante na capacidade de resposta dos serviços de saúde” – realça a diretora da ENSP-NOVA. Mais de metade (54,1%) dos participantes está confiante ou muito confiante na capacidade de resposta dos serviços de saúde face ao aumento das doenças mais comuns no inverno. São as pessoas com menores níveis de rendimento quem reporta estar menos confiante com o acesso aos cuidados de saúde e com a capacidade de resposta dos serviços, o que sugere a necessidade de investimento junto dos grupos que experienciam maiores vulnerabilidades.

Estas diferenças nas áreas de preocupação poderão também sugerir uma maior perceção de controlo no que diz respeito à gestão da Covid-19 ou de outras doenças respiratórias do que no domínio da saúde mental e acesso a cuidados.

 

Disponibilidade para adotar medidas de proteção

Quanto às medidas de proteção, a maioria dos participantes mostra-se disponível para usar máscara (80%) ou manter distanciamento físico (73%). No entanto, medidas de proteção que condicionem as relações com família e amigos são preteridas por mais de metade dos inquiridos (61,7%). “Importa frisar que a dimensão das relações sociais foi precisamente aquela em que foram reportados mais impactos negativos da pandemia, com potenciais efeitos a médio-longo prazo. O suporte social constitui um importante fator de amortecimento de impactos negativos em contextos de crise pelo que é importante reforçar estratégias promotoras da coesão social e do bem-estar individual e coletivo.” – refere a coordenadora.

 

Vacinação contra a Covid-19

A maioria dos participantes já tomou (26%) ou pretende tomar o reforço da vacina (44%). É entre os mais jovens e com maior nível de escolaridade que se verifica uma maior percentagem de hesitação (22% do grupo 16-25 anos não pretende tomar a vacina). Por outro lado, verifica-se que a maioria dos participantes (79%) recomenda a vacinação a pessoas próximas que façam parte de grupos de risco. “Num contexto de normalização da infeção, poderá haver alguma tendência para atribuir importância à vacinação apenas no caso de grupos mais vulneráveis.” – salienta Sónia Dias.

 

Nota metodológica:

Perspetivas sobre impactos da pandemia: uma pandemia, vivências diferentes

A recolha de dados foi realizada, por questionário, em dois momentos distintos de 2022. A recolha em abril de 2022 – passados dois anos de pandemia – envolveu 935 participantes e incidiu nos impactos globais da pandemia. No início de novembro, a recolha contou com 2242 participantes e permitiu recolher as perspetivas sobre a fase atual da pandemia: da preocupação às medidas de proteção.

A equipa de investigação é constituída por Sónia Dias (Coordenação), Ana Rita Pedro, Ana Gama, Ana Rita Goes, Ana Soraia Cunha, Beatriz Raposo, Fernando Genovez de Avelar, Filipa Rodrigues, Maria João Marques, Marta Salavisa, Marta Moniz, Pedro Laires, Patricia Soares, Rui Santana.