Uma equipa internacional de cientistas liderada pelo investigador da ENSP-NOVA, Julian Perelman, aponta que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) pode poupar, anualmente, cerca de 14 milhões de euros, se todos os hospitais públicos adotassem quotas biossimilares iguais às dos hospitais com quotas mais elevadas.
Este novo estudo teve como objetivo a identificação dos determinantes, barreiras e facilitadores da utilização dos biossimilares – medicamentos semelhantes a medicamentos biológicos utilizados para o tratamento do cancro ou da diabetes, com a os mesmos padrões de qualidade, segurança e eficácia aplicados aos medicamentos biológicos, mas com um custo mais reduzido. Para tal, a equipa de investigação analisou o consumo de biossimilares no mercado nacional, entre 2015 e 2021, dos 40 hospitais e centros hospitalares públicos do país. Adicionalmente realizou um inquérito online a gestores, diretores clínicos/diretores de serviço e farmacêuticos.
Os resultados mostram que os hospitais com utilização de medicamentos biológicos em grande escala – os que mais tratam as doenças graves -, são os que menos utilizam medicamentos biossimilares. Para Julian Perelman, investigador principal, este facto trata-se de “uma incongruência, porque são precisamente os hospitais que utilizam medicamentos em grande escala, os que menos utilizam biossimilares e que mais demoram na adoção desta tecnologia.
Outro dado que surpreendeu a equipa de investigação foi o facto de os hospitais com contratos mais elevados com empresas farmacêuticas serem os que, durante o período analisado, mais adotaram medicamentos biossimilares. “Sendo hospitais muito virados para a inovação, tendencialmente investem mais dinheiro em novos medicamentos, consequentemente, têm maior necessidade em limitar os recursos alocados aos medicamentos mais antigos fora de patente, para os quais existem biossimilares”, explica o investigador.
A Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (Apogen), entidade financiadora do estudo, indica que, nos últimos seis anos, a utilização de medicamentos biossimilares proporcionou tratamento a três milhões de doentes por dia, reduziu cerca de 40% do custo médio das terapêuticas biológicas, gerando uma poupança de mais de 292 milhões de euros para o SNS. Contudo, esta poupança poderia ser maior se os biossimilares fossem adotados em maior escala.
“Num momento em que o Serviço Nacional de Saúde tem um grande problema financeiro, estes medicamentos representam uma oportunidade para realocar recursos noutras áreas, como contratar mais profissionais de saúde, aumentar salários, adquirir equipamentos…”, aponta o investigador.
Os biossimilares chegaram ao mercado português em 2008 e, atualmente, são comercializados 14 medicamentos biossimilares para o tratamento de doenças oncológicas, reumatológicas e oftalmológicas.
Na Europa, a Dinamarca e Alemanha são dois exemplos referenciados pela alta taxa de utilização dos biossimilares. Segundo Julian Perelman, os resultados destes países diferem da realidade portuguesa pelo trabalho antecipado realizado pelos sistemas de saúde a nível local, que garantiu um sistema eficiente de gestão e apoio aos médicos. “Antes mesmo destes medicamentos serem introduzidos no mercado, são feitas reuniões com os clínicos, disponibiliza-se informação acerca da segurança e eficácia dos biossimilares e mostram-se os ganhos que a sua adoção pode trazer para o hospital.”
Sob o título “How do hospital characteristics and ties relate to the uptake of second-generation biosimilars? A longitudinal analysis of Portuguese NHS hospitals, 2015–2021”, o estudo foi publicado, a 17 de novembro, na revista científica “Expert Review of Pharmacoeconomics & Outcomes Research”, assinado pelos investigadores Julian Perelman (ENSP-NOVA), Filipa Duarte-Ramos (ISPUP), António Melo Gouveia (IPO), Luís Pinheiro (CHLN), Francisco Ramos (ENP-NOVA), Sabine Vogler (ANPHI) e Céu Mateus (HEAL).