A Escola Nacional de Saúde Pública reuniu um conjunto de especialistas em saúde pública, epidemiologia, economia da saúde e ciências comportamentais e clínica para uma sessão que foi palco de debate da vacinação contra a gripe, tendo sido definidas 7 recomendações para se maximizar a adesão à vacinação contra a gripe, dias antes de se dar início à Campanha de Vacinação Sazonal de Outono-Inverno 2023/2024.
O evento, liderado por Gonçalo Figueiredo Augusto que, com Julian Perelman, ambos Professores da ENSP NOVA, moderou a reunião que contou com a participação de Ricardo Mexia, médico de Saúde Pública, Diana Costa da Direção-Geral da Saúde, Francisco George da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública, Sofia Duque da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Francisco Ramos da ENSP-NOVA, Nuno Jacinto da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Ana Rita Goes da ENSP NOVA e, Baltazar Nunes da ENSP NOVA e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e o Jorge Barroso Dias, da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho.
O grupo analisou os últimos dados publicados, referiu estudos nacionais e internacionais que demostraram que sem dúvida, a vacinação contra a gripe é uma intervenção economicamente eficiente, pois reduz o risco de infeção de complicações e hospitalizações causadas pela gripe, logo diminui o risco de morte. É por isso fulcral adotar medidas que maximizem a vacinação contra a gripe na população em geral e entre os profissionais de saúde. Esta é atualmente a opção mais custo-efetiva que existe, estando comprovado que a vacinação contra a gripe tem enormes ganhos para a comunidade.
A adesão à vacinação irá ditar o sucesso na prevenção da carga da doença, uma vez que não existe outra opção tão eficaz como medida preventiva. O vírus da gripe foi descoberto há cerca de 90 anos e a vacina existe há menos de 80. Este vírus dá a volta ao mundo cada seis meses, mutando-se (isto é, modificando-se) daí haver necessidade de vacinação anual da população em cada hemisfério.
A pandemia de COVID-19 alterou o curso habitual da gripe, mas, infelizmente, estamos a regressar aos níveis comportamentais pré-pandémicos em termos de cobertura vacinal, nomeadamente nas populações ativas e nos profissionais de saúde. Apesar de Portugal ser um caso de sucesso com a vacinação da população com mais de 65 anos, cuja taxa de vacinação é de mais de 75%, noutros grupos etários a vacinação ficou aquém do pretendido.
A baixa literacia em saúde foi apontada como uma das principais causas para os mitos criados em torno da vacina. Os mitos são na sua maioria infundados e criados também em torno de contrainformação. As pessoas mais informadas tendem a ser por vezes mais relutantes à vacinação, pois informação não é sinónimo de conhecimento. Há resistência à vacinação por falta de confiança. No geral as pessoas pensam na carga negativa associada à vacina e não tanto nos benefícios da toma. Assim, é importante trabalhar mais, e de forma continuada, na informação dirigida aos receios individuais e também na perceção do risco.
Nos picos da gripe, os cuidados primários (Centros de Saúde) e os serviços de urgência ficam sobrelotados, transformando-se em verdadeiros ‘tubos de ensaio’ para propagação rápida do vírus. Assim, foi bastante realçada a importância da vacinação dos profissionais de saúde como um dos meios muito importantes para minimizar os contágios populacionais, e até evitar a sobrecarga de trabalho dos seus colegas.
Foi igualmente referido o impacto da gripe na produtividade, sendo que, na verdade, a produtividade nacional, vai muito além do absentismo. O presenteísmo (comparecer no local de trabalho estando doente) também deve ser evitado, pois favorece a transmissão da infeção aos que não estão doentes. Uma população mais saudável significa maior produtividade, e portanto, mais riqueza para o país. Estamos a vacinar pessoas com mais de 60 anos, mas é necessário olhar por exemplo para as pessoas de 50 anos que têm filhos e são cuidadores informais de idosos, e que como tal, também devem ser vacinados.
As recomendações deste evento focam medidas de implementação relativamente simples com o objetivo de maximizar a adesão à vacinação contra a gripe, assegurando maior proteção da população, prevenindo infeções, complicações, hospitalizações e mortes na população portuguesa.
1. Vacinação contra a gripe dos profissionais de saúde:
- Comunicação eficaz e assertiva para todos os profissionais de saúde, através de comunicações para as unidades de saúde, Ordens Profissionais, e publicação nos sites dos organismos do Ministério da Saúde
- Alertas individuais a cada profissional de saúde, pelas respetivas Ordens Profissionais, além dos alertas (internos) das Unidades de Saúde
- Possibilidade de a vacinação ocorrer sempre, e em todos os locais, durante 5 dias/semana, em dias de trabalho completos
- Formação/informação dirigida aos profissionais de Saúde Ocupacional dos estabelecimentos de saúde sobre a melhor evidência das estratégias para atrair os profissionais de saúde a aderir à vacinação.
2. Estabelecer métricas de vacinação e de prescrição de vacinas contra a gripe por unidades de saúde de cuidados primários
- Objetivo da DGS/ OMS /ECDC: pelo menos 75% de cada uma das coortes (grupos) populacionais prioritárias
- Facilitar a vacinação destas coortes (grupos) da população nas farmácias comunitárias, e também unidades privadas de saúde
3. Programar os softwares clínicos para que alerte os médicos prescritores da população a vacinar, de acordo com os grupos da população definidos pela DGS
4. Comunicação por SMS com os cidadãos pertencentes às coortes definidas que se devem vacinar
5. Possibilitar a marcação online da data, hora e local de vacinação online, com confirmação por SMS para os cidadãos
6. Possibilidade de envio da prescrição da vacina contra a gripe, por SMS, para a os utentes com menos de 60 anos
7. Comunicação à população em geral da importância da vacinação contra a gripe, através de fortes campanhas em diversos meios de comunicação social e redes sociais
As sete recomendações para maximizar a vacinação contra a gripe sazonal tiveram eco nos principais meios de comunicação social.