Investigadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa e do Centro CoLAB + ATLANTIC publicaram um artigo inédito na conceituada Lancet Planetary Health sobre o impacto das ondas de calor nas admissões hospitalares em Portugal.
Os dados, recolhidos entre 2000 e 2018, cruzaram mais de 12 milhões de hospitalizações em todo o território de Portugal continental com dados de temperatura diária do ar. Trata-se do primeiro estudo, sem precedente conhecido na literatura científica, que analisou os motivos de admissão hospitalar.
Os resultados indicam que no período analisado, os dias de onda de calor aumentam as admissões hospitalares em 18,9% em Portugal, tendo este aumento sido verificado em todas os grupos etários, sendo as crianças as mais foram afetadas.
O artigo mostra que o impacto das ondas de calor é de tal forma marcado que é responsável pelo aumento dos internamentos para todas causas de doença: em média, em dias de onda de calor, os internamentos aumentam 34% para queimaduras, 27% para os traumatismos múltiplos, 25% para as doenças infeciosas, 25% para as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, 23% para as doenças mentais, 22% para as doenças do aparelho respiratório e em 16% para as doenças do aparelho circulatório, entre outras.
As alterações climáticas representam um dos desafios globais mais urgentes do século XXI, tendo o ano de 2023 sido o mais quente alguma vez registado. A ocorrência de eventos meteorológicos extremos constitui uma das maiores preocupações atuais, em particular as ondas de calor, cuja frequência, intensidade e duração se estima que aumentem nas próximas décadas. A Europa é o continente que está a aquecer mais rapidamente em todo o mundo – duas vezes mais rápido do que a média planetária.
Embora o acesso precoce aos cuidados de saúde e o aumento da consciencialização da população sejam elementos essenciais na prevenção dos efeitos adversos das ondas de calor, a escassez de dados que quantifiquem este impacto dificulta a sensibilização dos decisores políticos e a consequente alocação de recursos para esta causa.
Este estudo serve assim como um alerta claro sobre os perigos das ondas de calor e a necessidade premente de ações que visem mitigar o seu impacto na saúde pública de Portugal. Os investigadores consideram que os resultados deste trabalho devem ser utilizados de modo a promover a adaptação dos cuidados de saúde em Portugal para um fenómeno cada vez mais frequente, intenso e duradouro, consequência do cenário atual de alterações climáticas.
Consulte a publicação: “Effect of heatwaves on daily hospital admissions in Portugal, 2000–18”