O estudo “Mortality burden of cardiovascular disease attributable to ambient PM2.5 exposure in Portugal, 2011 to 2021”, elaborado pela bolseira de investigação e aluna de Mestrado da ENSP NOVA Mariana Corda e coordenado por Carla Martins, investigadora, no âmbito do projeto PMCardImpact, foi recentemente publicado na revista científica BMC Public Health. Este projeto pretendeu avaliar o impacto da exposição a matéria particulada 2.5 µm (PM2.5) na carga de doença cardiovascular bem como o impacto económico associado.
A matéria particulada resulta essencialmente das emissões do tráfego automóvel, das atividades industriais e do aquecimento doméstico, mas também de emissões naturais como é o o caso das poeiras provenientes dos desertos do Norte de África e as resultantes dos incêndios florestais. A exposição a este poluente é mais preocupante em grandes aglomerados populacionais. Após inalação, as PM2,5 provocam alterações biológicas nas células, causando uma resposta inflamatória generalizada e o espessamento dos vasos sanguíneos, induzindo também stress oxidativo pulmonar. Consulte o artigo aqui.
Este estudo permitiu obter pela primeira vez as seguintes conclusões principais:
- Entre 2011 e 2021, aproximadamente 22% e 23% da mortalidade por doença isquémica cardíaca e acidente vascular cerebral foi atribuível à exposição a PM2.5, tendo resultado em 288 862,7 e 420 432,3 anos de vida perdidos (YLL), em Portugal.
- A carga de doença expressa em YLL esteve maioritariamente concentrada nas regiões do Norte, Centro e Área Metropolitana de Lisboa (regiões com densidade populacional, tráfego e desenvolvimento industrial mais elevado).
- Portugal é um país com um percurso positivo em políticas ambientais e na redução da concentração de poluentes atmosféricos. No entanto, apesar desta evolução positiva ao longo dos anos, os limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde não são ainda alcançados no nosso país, com especial ênfase nas zonas de maior densidade populacional. A adopção dos limites para a concentração atmosférica de PM2.5 recomendados pela Organização Mundial da Saúde em 2021 resultaria numa redução da mortalidade por doença cardiovascular.
Este estudo foi desenvolvido no âmbito do projecto PMCardImpact, financiado pela FCT, e resulta de uma colaboração entre vários investigadores (Periklis Charalampous e Juanita A. Haagsma de Erasmus Medical Center em Roterdão; Ricardo Assunção de Egas Moniz School of Health and Science), com o apoio da rede europeia Burden-EU. Este estudo foi também desenvolvido no âmbito do Mestrado em Saúde Pública, sendo o principal contributo da dissertação de Mariana Corda, primeira autora do artigo.
Os resultados obtidos são um contributo fundamental para apoiar a tomada de decisão na área das políticas ambientais, justificando a redução dos limites admissíveis de poluentes atmosféricos, em discussão atualmente em curso para a revisão da Diretiva Europeia da Qualidade do Ar.
Consulte também o artigo relacionado com os projetos de investigação a decorrer no Departamento de Saúde Ocupacional e Ambiental da ENSP NOVA aqui.