Julia Hotz, autora do livro “The Connection Cure: The Prescriptive Power of Movement, Nature, Art, Service and Belonging” e jornalista especializada na área da saúde, com investigação na área da Prescrição Social, esteve em Portugal para participar numa reunião da rede Prescrição Social Portugal, promovida pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP NOVA), e que decorreu na Unidade Local de Saúde São José, contando também com uma intervenção da diretora da ENSP NOVA, Sónia Dias. À margem do encontro, concedeu-nos uma entrevista sobre o projeto de Prescrição Social que a ENSP NOVA tem liderado, e que faz parte do seu livro.
Como conheceu o trabalho da ENSP NOVA na área da Prescrição Social?
A minha primeira ligação à Prescrição Social, apesar de eu viver nos Estados Unidos, foi através do Reino Unido, que foi pioneiro nesta área, começando com alguns projetos de Prescrição Social e que hoje fazem parte do National Health Service, o serviço nacional de saúde do Reino Unido. Foi no âmbito destas pesquisas para o meu livro que tive contacto com o projeto da ENSP NOVA e fiquei verdadeiramente impressionada.
O que tem de diferente ou de único o trabalho que a ENSP NOVA tem feito?
Portugal tem um Serviço Nacional de Saúde muito semelhante ao do Reino Unido e isso interessou-me bastante para perceber como podem evoluir os projetos. A grande diferença que encontrei – e fiquei maravilhada – é que o projeto que a ENSP NOVA está a implementar com os vários parceiros vai muito além do que é feito no Reino Unido. A Prescrição Social em Portugal é muito abrangente, foca vários determinantes em saúde, tanto procura respostas para o isolamento das pessoas como procura, por exemplo, ajudar na procura de um emprego para a população migrante.
Pode dar mais alguns exemplos?
Em Portugal pude conhecer e acompanhar casos muito diversos, desde uma senhora de idade que é obrigada a sair da cidade e que precisa de apoio para construir uma nova rede de contactos na nova morada, até um migrante do Burkina Faso que precisa de apoio para aprender português e para procurar um emprego, ou alguém que precisa de um estímulo para mudar a sua vida sedentária. Foi esta capacidade de o projeto de Prescrição Social da ENSP NOVA responder a realidades e populações tão diversas, envolvendo médicos de família, assistentes sociais e tantos outros profissionais, que me impressionou.
Portugal poderia ser uma referência nesta área para outros países?
Sem dúvida. Portugal tem uma maneira particular de fazer as coisas. Pelo mundo inteiro, conheci muitos programas, mas que tendem a focar-se numa só necessidade, também porque muitas vezes os programas são feitos em função de financiamentos específicos. Aqui, a ENSP NOVA tem conseguido implementar uma abordagem holística, envolvendo desde a academia, aos profissionais e à comunidade. Nos Estados Unidos temos um artigo que refere precisamente o grande impacto que a Prescrição Social está a ter, até em termos de esperança média de vida. Devem estar muito orgulhosos do que estão a fazer e seria muito importante Portugal incluir de forma alargada a Prescrição Social no Serviço Nacional de Saúde, como no Reino Unido.