A Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP NOVA) acaba de apresentar um novo Knowledge Center na área da Ciência da Implementação e de lançar oficialmente a Rede Portuguesa de Ciência da Implementação. Estas estruturas, pioneiras em Portugal, visam transformar a forma como as políticas, práticas e inovações em saúde são aplicadas, promovendo maior eficiência nos serviços e contribuindo para melhores resultados de saúde nas populações.
Um dos maiores desafios da Saúde Pública moderna é o longo intervalo entre a produção de conhecimento científico e sua aplicação prática. Estudos científicos que comprovam a eficácia de tratamentos, intervenções e políticas de saúde demoram, frequentemente, muitos anos até serem adotados e implementados pelos sistemas de saúde, não se tirando todo o benefício possível do que foi descoberto.
“A Ciência da Implementação desempenha um papel fundamental na transformação dos nossos sistemas de saúde. Ao identificar as barreiras e as ações facilitadoras que influenciam a adoção de práticas baseadas na evidência, estamos a capacitar profissionais, instituições e decisores políticos a tomarem decisões mais informadas e eficientes. A ENSP NOVA dá mais um passo decisivo para garantir que a inovação é mais rapidamente implementada e chega às populações, promovendo cuidados de saúde mais eficazes, equitativos e sustentáveis em todo o país”, destaca a diretora da ENSP NOVA, Sónia Dias, que coordena o Knowledge Center, que conta com Marta Marques na co-coordenação.
No evento público, que decorreu na ENSP NOVA, palestrantes nacionais e internacionais partilharam exemplos da aplicação prática da Ciência da Implementação e das necessidades sentidas, nomeadamente em termos de identificação de barreiras e facilitadores à integração da inovação nos cuidados de saúde e desenvolvimento de estratégias para a sua adoção efetiva.
Através de uma abordagem multidisciplinar, a Ciência da Implementação analisa e otimiza a operacionalização de políticas e intervenções baseadas em evidências no mundo real, o que contribui para melhorar o impacto na saúde da população, reduzir custos, aumentar a eficiência e diminuir desigualdades. Este campo de estudo desempenha um papel crucial ao enfrentar desafios complexos, promovendo a sustentabilidade e o uso otimizado dos recursos disponíveis, essencial para sistemas de saúde mais equitativos e resilientes.
Exemplos de aplicação da Ciência da Implementação:
- Adesão e implementação de programas de deteção precoce de cancro: a Ciência da Implementação desempenha um papel fundamental ao transformar planos de rastreio em ações eficazes. Permite identificar barreiras e ações que facilitam a adesão a estes programas, por parte de diferentes grupos, como populações vulneráveis, sem esquecer as necessidades dos profissionais de saúde e dos sistemas de saúde. Com base nessa análise, propõe estratégias práticas, desenvolvidas em conjunto com todos os stakeholders envolvidos, que garantam que os programas de deteção precoce sejam eficazes na prática, com otimização de recursos, e respondendo às necessidades específicas de cada contexto.
- Adoção de novas tecnologias em saúde: a Ciência da Implementação é crucial para integrar novas tecnologias, como aplicações móveis para redução de risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2 ou de doenças cardiovasculares, nos sistemas de saúde. Analisa barreiras como a adesão dos utilizadores e a aceitação dos profissionais de saúde, propondo estratégias para superar desafios e adaptar as tecnologias ao contexto. Permite também avaliar fatores cruciais para a implementação de novas tecnologias, como a sua aceitação, adoção, custo, viabilidade, penetração no mercado e sustentabilidade, garantindo que as tecnologias são viáveis e sustentáveis na prática real.
- Melhoria da experiência dos utentes nos sistemas de saúde: a Ciência da Implementação pode ajudar a transformar a jornada do utente, identificando pontos críticos ou barreiras de acesso, como tempos de espera prolongados ou dificuldades na navegação pelo sistema. Com base nessas análises, propõe estratégias para otimizar fluxos, melhorar a coordenação entre diferentes níveis de cuidados e assegurar que os serviços são acessíveis e centrados no paciente. Além disso, avalia continuamente a eficácia dessas estratégias, considerando indicadores como satisfação das pessoas, adesão aos tratamentos e eficiência operacional.
Com o lançamento do Knowledge Center, a ENSP NOVA pretende liderar um movimento nacional para a disseminação e implementação de evidencia científica atual, inovação e boas práticas, com o objetivo final de melhorar a saúde e o bem-estar de todas as populações em Portugal. Com esta iniciativa, a ENSP NOVA cria também uma rede colaborativa e dinâmica com investigadores, profissionais de saúde, decisores políticos e outros intervenientes, fomentando um ambiente de aprendizagem e melhoria contínua. A rede procurará promover práticas inovadoras e sustentadas em evidências científicas, garantindo que estas sejam aplicadas de forma célere e eficaz, tanto no setor da saúde como no social. Esta rede conta já com membros fundadores como a Novartis.
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